terça-feira, 23 de junho de 2009

Caso Clayton - O que foi publicado - Nota oficial Movimento da Rua São Jorge

Nota oficial do Movimento da Rua São Jorge, formado por associados aos Gaviões da Fiel.

A VOZ DA RUA


Os fatos deviam sempre falar por si. Um bom jornalismo apresenta os fatos e deixa que os leitores, que têm inteligência suficiente para isso, cheguem às suas conclusões. Mas quando a grande mídia apresenta os fatos, já vai logo dando sua versão, não deixando espaço para um julgamento isento de opinião particular, de classe ou de preconceito. A grande mídia são os grandes jornais, as grandes emissoras de radio e TV, e seus apresentadores, que se crêem os donos da verdade e os paladinos da moral. Não todos, é claro. Mas uma grande maioria. São formadores de opinião que esquecem que de perto ninguém é normal. E que todos os seres humanos têm as suas perversões. Vai saber a vida de cada um. Sempre, um dia, alguma bomba estoura. E muitas máscaras caem. Mas enfim. Não é destes medíocres que vamos falar. Não agora.

O que queremos neste momento é elucidar os últimos fatos relacionados aos Gaviões da Rua São Jorge, e que foram levados á publico envoltos em versões que não correspondem à realidade. Versões que, para além do preconceito, escondem intenções muito mais amplas e maldosas, nesse jogo de bandido e mocinho que jogam os donos do poder deste país, e que faz de nós, torcidas organizadas, risíveis joguetes, numa engrenagem, que mesmo os mais atentos dentre nós, não percebemos com clareza. Também deste jogo de mocinho e bandido, e da criminalização da pobreza, que tem levado ao extermínio os jovens de nossas periferias, não trataremos aqui. Não agora.

Lembramos, apenas, que nossos jovens vêm, em sua estonteante maioria, dessas periferias desprovidas, desafortunadas, cheias de medo de não amanhecer, esquecidas das políticas publicas, principalmente para essa juventude. Também das necessidades dessas políticas públicas para a juventude, que sejam capazes de fazê-los acreditar em um futuro mais justo e digno para eles neste país, também não trataremos aqui. Não agora.

Nossa voz se levanta aqui para nos defender das mentiras que foram ditas por uns e veiculadas por outros a respeito dos fatos que ocorreram na quarta-feira, dia 04 de Junho de 2009. Versões alardeadas pelo Sr. Paulo Castilho e pela Sra. Ana Maria Braga. Aquele por maquiavélica inteligência. Esta por pura burrice e desinformação. Aliás, se o Louro José trocasse de lugar com ela, ninguém notaria. Não. Notariam sim. Ele tem mais inteligência do que ela. Ela é que é a papagaia. E aqui paramos pra pensar: Como podemos qualificar o ato cruel de invadir diariamente a residência de milhões de brasileiras pobres, que mal conseguem comprar o arroz, o feijão e a mistura, para torturá-las com receitas, comidas e guloseimas que elas nunca terão acesso? Como qualificar o ato de incitar desejos de consumo a uma população de miseráveis que nunca, nunca vão poder satisfazer-los? Quem é mais quem? Como ser mais você, se tudo na vida de quem é pobre é menos? O que Ana Maria diz diariamente em seu programa é: Olha, todos podem ter acesso a isso: Menos você. Como qualificamos isso? Tortura? Sacanagem? Ignorância? No entanto, D. Ana Maria Braga, se acha no direito de nos chamar de um bando de marginal e vagabundo.

Já a inteligência da perversidade do Sr. Paulo Castilho atende, não sabemos se consciente ou inconscientemente, às necessidades de elitização do futebol, que pede o afastamento dos favelados, dos periféricos, dos negros, dos mestiços, dos pobres, da imensa maioria do povo brasileiro. Porque, não nos enganemos, esse discurso de “famílias afastadas dos estádios”, não se mantém se verificamos a realidade. Ou aquele senhor que eu conheço e que mora na minha quebrada, que foi ao estádio com sua esposa e filha, não é família? A questão é saber de que família estes senhores da moral, estão falando. Não é da pobre e favelada. Mas desses processos de elitização do futebol não trataremos aqui. Não agora.

Faz-se necessário um debate interno dentro do Movimento da Rua São Jorge. Abrir a cabeça dos nossos jovens para o jogo perverso que nos envolve, e se não estivermos atentos, seremos arrastados pelo rolo compressor da mentira e da perversidade daqueles para quem a nossa criminalização só trará benefícios pessoais. Jovens promotores, querendo construir carreiras, se auto considerando, os benfeitores da sociedade. Jovens promotores que desconhecem a vida, o mundo real e a sociedade brasileira. Jovens promotores formados entre quatro paredes, presos a livros e a leis frias, que aplicam como dessem comprimidos para a dor de cabeça. Defensores da lei e da ordem que só beneficiam sua classe social. Pois não é com a sociedade pobre e marginalizada que eles estão preocupados. Mas desses jovens promotores também não trataremos aqui. Agora não.

O momento é de esclarecer a sociedade civil o que verdadeiramente aconteceu na Marginal Tietê. Porque não foi emboscada nenhuma. E olhamos perplexos um mundo de exageros e mentiras desabar sobre nossas cabeças. Condenados sem julgamento. Criticados por todos, sem conseguir expressar nossos sentimentos. Nossa dor pela perda de um irmão. Nossa revolta.

O nosso objetivo aqui será o de encaminhar a razão e procurar a verdade nos fatos. Recusar todos os preconceitos, não aceitando como verdadeira nenhuma versão que não seja comprovada. Vamos aqui enunciar versão a versão e mostrar o quanto são refutáveis.

Emboscada? Se por emboscada entendemos, e assim nos diz o Aurélio, que é o ato de esperar às escondidas pelo inimigo para atacá-lo de surpresa, Como pode ter sido emboscada se aquele sempre foi o caminho dos gaviões da Rua São Jorge? Todos sabem disso. Policia e torcidas adversárias. Não é um caminho que se vai quando se quer se esconder e atacar de surpresa. Ou o jovem promotor não entende nada de ciência militar, ou optou por mentir descaradamente.

Como emboscada se era 1 ônibus contra 13 num terreno pouco favorável a um ato destes? Um ônibus visível até pelos mais míopes. E esse único ônibus trazendo mulheres, crianças e um deficiente, ocupando espaço que poderia ser destinados a outros briguentos. Seria inteligente tirar homens e colocar mulheres e crianças para ir para uma briga?

Tínhamos escolta? Tínhamos. A nossa. Não porque fôssemos os poderosos e não precisássemos da colaboração da polícia, mas porque ela nos foi negada. Sem escolta batemos no peito pra dizer: é com nóis mesmo. Nossa defesa eram nossos punhos. Não tínhamos nenhuma arma. Muito menos a arma de alto calibre que foi veiculada na mídia. Mentira, mentira, mentira.

O fato é que quando chegamos na altura da rodoviária do tietê, três motos da Rocam, aparecem do nada, e nos joga para a direita. Se ela queria aparecer, porque não o fez desde a saída da Rua São Jorge? Após o viaduto das Bandeiras pararam nosso ônibus e carros. E olha a coincidência: “40 segundos” depois passavam os 13 ônibus vascaínos na pista central. E olha a coincidência: eles também foram parados. A rivalidade antiga aflorou, falou mais alto e eles marcharam para cima de nós. E aí já estávamos no meio de uma briga lutando pra se defender. Recuamos no sentido da ponte Tiradentes. Para trás ficaram nossos carros e o ônibus. Até esse momento ninguém tinha sido foi preso. Dos vascaínos ninguém chegou a ser preso. Seus ônibus seguiram tranquilamente para o estádio como se nada tivesse acontecido. E, então, voltarmos para os nossos carros e ônibus, acreditando que seria o mais seguro devido à presença da polícia no local. Eles mesmos disseram que nós tínhamos sido vítimas. Mas coma chegada da delegada Margareth e do jovem promotor, tudo mudou de figura.

Se tínhamos sido vítimas de vandalismo, roubo e morte, se tivemos nosso ônibus depredado, nossos carros destruídos e uma moto incendiada, passamos a ser os vagabundos, os criminosos, os bandidos.

Se somos bandidos porque insistimos em participar e dar nossa contribuição em todas as reuniões do Batalhão? Mesmo quando a delegada Margareth manda nossos representantes se retirarem da reunião, justificando que somos os Gaviões da Rua São Jorge, que não somos reconhecidos como tal, que não possuímos CNPJ.

Também fomos retirados de uma reunião no Fórum com o Promotor, o Secretário do Ministro e todas as outras torcidas organizadas. Não nos identificaram como Rua. Quem vive na rua vive ao relento. Sem voz, nem vez. É assim a nossa sociedade.

Se somos bandidos por que insistimos em pedir escolta? De início fomos atendidos. Mas logo começou o boicote. Inclusive de outras torcidas. Inclusive de parte da nossa torcida. Na rua é assim: cada um por si e Deus por todos.

Estão todos esses fatos e essa versão de emboscada desconectados um dos outros? São fatos isolados? Não se vê nessa forma de agir contra os Gaviões da Rua São Jorge uma certa lógica?

Sabemos que nos envolvemos em brigas. Sabemos que isso não leva a nada. Como sabemos, por experiência, que à medida que a idade vai chegando, esses pensamentos vão mudando. E nós mesmos, olhando em retrocesso o nosso passado de brigas, dizemos aos mais jovens, que isso é besteira, que não dá futuro a ninguém. Mas futuro, nenhum periférico tem nesse país. Então que diferença faz? O jovem se pergunta. E aí já não sabemos mais responder. Não somos sociólogos nem psicólogos sociais. Simplesmente nascemos dentro de uma realidade brasileira, de um contexto, de uma formação social que nos é adversa. Somos formamos nela. E respondemos tentando sobreviver a isso. Mantendo nossa sobrevivência psíquica em tempos de crise civilizatória. Sabemos, sim, que apesar das confusões que causamos, não somos bandidos, como querem fazer a sociedade crer. Não somos terroristas, que é o medo da moda desde o 11 de Setembro. Não somos delinqüentes nazistas que matam negros, nordestinos e índios. Somos periféricos que brigam com periféricos. E que nesse brigar, infelizmente, para nosso pesar e tristeza, morre, ás vezes, um jovem. Aí somos pobres matando pobres. É justamente aqui que riem de nós. E pensam: Isso! Matem-se. Mostrem à todos, quem vocês são de verdade. Vagabundos. Marginais. Bandidos. Se vocês são ou não são, isso não nos interessa. O que não queremos é que um bando de loucos estejam organizados. E que um dia, deixem de brigar e invadam câmaras e senados brigando por educação, igualdades e direitos. Pois é para isso que queremos caminhar. Que a cobrança por títulos para o Todo Poderoso Corinthians venha acompanha de outras cobranças, lutas e conquistas sociais e humanas. Que os Gaviões da Rua São Jorge possa contribuir verdadeiramente para a higienização do futebol, ocupando as salas e pondo os cartolas contra a parede. Em nome da nação Corinthiana, em nome da nação brasileira. Os Gaviões que se juntaram na Rua São Jorge, querem e vão brigar para construir um novo modelo de torcida. A cada dia com seu nível de consciência mais elevado, a cada dia mais organizada.

Mas aqui tem um bando de loucos, sim. Loucos por ti Corinthians. Loucos por ti minha quebrada. Loucos da rua. Porque a rua ensina e mostra ao homem a sua verdadeira dimensão. Porque a rua é do tamanho do mundo. A rua é o mundo. E o homem é do tamanho de uma pedra miúda. E, aqui, deixamos para todos nosso recado final: CNPJ? CNPJ é a rua mané. Nela, é nóis que tá. Movimento Gaviões da Rua São Jorge.

Um comentário:

Álvaro disse...

O pior de tudo é que o promotor se safou.

Já o Cleyton, infelizmente para os amigos e familiares, não teve a mesma chance.

Esquecido até pela torcida.

Mas o promotor está aí.