quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

Uma análise de quem não ganha pra isso

Corinthians 5 X 0 São Bento
01/02/06
Pacaembu, 20h30



- Ah, Gabi...É Corinthians e São Bento! Campeonato Paulista (e está certo quem comenta que o Paulista já teve graça em uma outra época onde a diferença entre a qualidade técnica dos times não era tão discrepante)... Não vai lotar! A gente compra o ingresso na hora.

Quem imaginaria que, em plena quarta-feira para assistir a Corinthians e São Bento às 20h30, teria uma fila da bilheteria até a banca de jornal? Nós não imaginamos.

E lá fui eu com minha amiga Gabi, recém divorciada e sedenta por descontar toda a sua fúria contra a raça masculina no juiz, e meu filhote Lucas, que não assistia o Corinthians de pertinho desde o ano passado, atrás dos ingressos.

- Acabou a arquibancada – avisou um colega.

Jogo longe da arquibancada não tem a metade da graça. Nem conhecer metade das pessoas que estavam no Pacaembu foi suficiente para conseguir os ingressos. Quando comecei a explicar para o Luquinhas que não seria possível ver o Corinthians naquela noite, o choro de decepção não foi contido. Dele, não meu. Eu já me acostumei com a mais completa falta de organização (do torcedor também) que faz a gente ficar para fora do estádio inúmeras vezes.

Até aparecer o santo Franz e seu primo de nome impronunciável, com toda a sua lábia para me convencer a ficar.

- Vamos de Tobogã, Lelê.

A última ida minha ao tobogã foi bastante traumática. Não me lembro do jogo, mas impossível esquecer meu pai tirando sua camisa para girar durante os gritos de torcida. Sua barriga era tão grande que meu tio e meu primo, na numerada, nos acharam de imediato.

- Olha ali o titio e a Lelê – exclamou meu primo, sempre observador.

Na época eu era pré-adolescente e passava por aquela fase de “vergonha dos parentes mais próximos”. Respirei fundo, superei o trauma e concordei com o tobogã.

- Tenho quatro arquibancadas sobrando!

Nem consegui olhar direito pro sujeito que disse as palavras mágicas. Compramos e entramos na arquibancada. Na porta, encontramos meu amigo Pornô (não me perguntem por que o apelido) que carregava dois amigos espanhóis e um português.

Então estávamos todos juntos na arquibancada: a Gaviões da Fiel, eu, a Gabi, o Lucas, o Pornô, o Franz, o primo, o Vasco (era o nome do português), o espanhol I e o espanhol II. Depois chegaram o Sid e um amigo dele.

Logo no começo da partida, o protesto de quem quer ver eleições diretas no Corinthians. Se assim fosse, talvez Waldemar Pires vencesse hoje o jurássico Dualib, sua família e sua parceria. Mas mais do que o resultado, importa também a democracia, como bem disse o Tonhão, presidente da Gaviões da Fiel, em entrevista à Gazeta Esportiva (e desconsideremos uma outra declaração dele, na mesma entrevista).

E no futebol, um passeio... Seria muito fácil mesmo se o juiz fosse um cara durão e apitasse por vontade própria, mas ao contrário disso, o bundão esperava a torcida chiar, gritar, vaiar, ou elogiar para apitar.

- Mas só um louco pra peitar esse bando de maloqueiros, Lelê – bem disse a Gabi.

Maloqueiros somos nós, com o peito cheio de orgulho e a voz fraca de gritar gol tantas vezes. Três de Carlitos, um de Ricardinho e um de Marcelo Mattos. A voz só calou quando grande parte da arquibancada começou a exaltar o nome de Ricardinho e, mesmo sabendo que ele é uma das soluções que o Corinthians precisava, eu costumo ficar quieta nessas horas.

Aprendi a gritar o nome do meu time e a vangloriar quem realmente merece. Definitivamente, não dá para esquecer algumas coisas, como quando a gente mandou fazer dinheiro com a cara do Ricardinho e todos os apelidos para nos referirmos a ele: Ricardinheirinho, Mercenarinho, Bichardinho...Futebol não é só profissionalismo. Se fosse... Eu já sou jornalista.

Ontem, todo mundo saiu feliz do Pacaembu. A chuva armada não caiu, a gringaiada gostou do que viu, o Lucas se lambuzou com o sorvete de chocolate e com os gols e eu protestei, cantei, gritei, abracei meus amigos. Até a Gabi, que nem tinha lá muitos motivos para xingar o juiz, extravasou toda a raiva e apelidou o coitado com o nome do seu ex-marido. Noite feliz.

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